terça-feira, 6 de setembro de 2011

AINDA DÁ TEMPO!

 Após tanto tempo sem me manifestar… por que logo hoje, no dia do SEXO? Que venham as piadinhas.

Fiquei sabendo que a data, comemorada no sugestivo 6/9 desde 2008, foi instituída por uma campanha de marketing de um fabricante de preservativos. E como trabalho na área de direitos sexuais e reprodutivos, gênero e reprodução assistida, não há como fugir desta comemoração... Afinal, “fugir” para quê? ;-)

Para muitos falar sobre sexo ainda é tabu, para outros é expor intimidades, ou trocar experiências, ou se autoconhecer, ou simplesmente sentir prazer... Teorias sobre o tema não faltam: hipóteses repressivas, sexo como reforçador primário, diferença sexual como formadora da subjetividade e da cultura, complexos originados em interditos sexuais, entre tantas outras.


No meu cotidiano acadêmico e clínico, é inevitável o questionamento de muitas destas teorizações, justamente por eu considerar o sexo um dos direitos humanos fundamentais. Não, não quero com isto dizer que sexo é fundamental (tudo depende do ponto de vista e da história de vida de cada um). Mas o direito à livre escolha e à igualdade de acesso à saúde, ao livre exercício da sexualidade e da reprodução humana, sem discriminação, coerção ou violência SIM.

Imaginem eu defendendo estes direitos para o padre Jorjão (pois é, me casei na igreja e tudo, mas não sem antes ter uma conversa direta e franca com ele), argumentando que há muita diferença entre ele ter adotado a abstinência sexual e a igreja “aceitar” os homossexuais, por exemplo, desde que também adotem a mesma abstinência.

Por incrível que pareça, foi mais fácil conversar com ele do que argumentar com alguns psicólogos que, no exercício de suas funções, redigem relatórios contrários à homoparentalidade por não existir, segundo eles, a tal diferença sexual supostamente necessária para a criação de uma criança saudável. Ou então com alguns profissionais da saúde que não permitem o acesso às novas tecnologias reprodutivas a pessoas sem parceiros sexuais. Vale lembrar que, com as técnicas de reprodução assistida (a inseminação artificial, a fertilização in vitro, a ICSI), procriar deixou de depender do encontro sexual de um homem e de uma mulher. Sexo e reprodução, definitivamente, foram separados.


Será? Esta separação é bem menos contrariada quando se trata de evitar a reprodução, com o uso de pílulas, preservativos ou outros anticoncepcionais. Mas pensar o inverso, a reprodução sem o sexo, esbarra em valores morais sobre os quais ainda temos muito a debater e questionar se quisermos comemorar o dia de hoje, dia do SEXO, sem discriminações.