sexta-feira, 26 de março de 2010

E haja autocontrole...

Quem nunca esteve diante de um delicioso bolo de chocolate... ou de um pão quentinho recém chegado da padaria... ou mesmo de uma cerveja bem gelada num dia de verão ...
E teve que manter o autocontrole para não “cair em tentação”?


Pois é, parece que este autocontrole tem se tornado mais difícil a cada dia, enquanto as tentações têm invadido até mesmo a mesa da “Última Ceia”, famosa imagem religiosa que retrata a última refeição feita por Jesus e seus apóstolos. Segundo pesquisadores americanos, os tamanhos dos pães, dos pratos, das taças de vinho e da refeição principal aumentaram em até dois terços nos últimos séculos.

Se nos últimos mil anos aumentaram dramaticamente a produção, a disponibilidade e o acesso aos alimentos, também aumentou a exigência por autocontrole diante desta fartura toda. A variabilidade aumentou, mas as escolhas devem ser “as mais saudáveis possíveis”; os pratos estão maiores, mas as porções devem ser menores se quisermos manter padrões de beleza e saúde. Devemos vigiar mais nossos corpos, decidindo nossas dietas sob controle de reforçadores sociais imediatos (muitas vezes deixamos de comer algo para recebermos um elogio, ou mesmo para evitarmos a bronca do outro) e/ou conseqüências em geral atrasadas (termos uma saúde melhor ou estarmos no nosso “peso ideal”).

Mas será que basta ter “força de vontade”, “persistência”, “vergonha na cara” para se ter autocontrole? Não, não se trata de olharmos para o “interior” ou “desejo” dos indivíduos, mas sim para suas relações com o mundo em que vive, para suas redes sociais, para as contingências nas quais os alimentos ou eventos nos quais eles estão presentes são reforçadores.

As mudanças nas pinturas da “Última Ceia” revelaram variáveis culturais importantes para entendermos melhor o autocontrole. Ficamos cada vez mais expostos à comida, presentes em situações também reforçadoras: comemos pipoca assistindo a filmes, tomamos choppinho na conversa com amigos, comemos bolachas com chá (podem ser biscoitos) na visita à vovó, e por aí vai. Cotidianamente, temos que decidir entre sacrificarmos prazeres imediatos em prol de um bem maior remoto (para nós mesmos e para a coletividade). E essa decisão depende de muitas variáveis da história de vida individual de cada um e de suas contingências culturais (já imaginaram como seria o filme Super Size Me no Japão, com sushis e sashimis?). Mas este já é um assunto para outro post.

Bianca Alfano

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