quarta-feira, 24 de março de 2010

O X da questão


Recentemente, a revista Forbes divulgou a lista das pessoas mais ricas do mundo. Entre os 10 primeiros mais ricos figura o empresário Eike Baptista, em 8º. lugar. Além de bem sucedido, incansável e disciplinado trabalhador, poderíamos dizer que o empresário é “supersticioso”, isto por colocar a letra X no nome de cada empresa que funda. Segundo ele, o X representa a multiplicação e acelera a criação da riqueza.

É curioso ver que alguém tão bem sucedido possa ter um comportamento supersticioso, pois em geral os homens de negócios são vistos como racionais e desligados de superstições ou comportamentos ditos irracionais. E agora, questionamos a regra ou sua exceção? Melhor seria questionar tanto uma quanto a outra!

Mas de onde surgem os comportamentos supersticiosos? E por que existem? Eike Batista dedica muitas horas de sua vida ao trabalho, é um desbravador em negócios no Brasil e realizador de projetos ambiciosos e desafiadores. As características de seus empreendimentos implicam em pouco conhecimento das variáveis envolvidas. Tais contingências, mesmo com planejamento de ações e uma equipe de trabalho extremamente capaz de minimizar as chances de fracasso (conseqüências aversivas), podem gerar sentimentos de insegurança, incerteza, medo, ansiedade. O investimento é muito alto, com chances de obter conseqüências positivamente (sucesso) ou negativamente reforçadoras (fracasso).

Neste contexto, um comportamento supersticioso pode ter a função de modificar contingências internas (ou eventos privados), tais como sentimentos de ansiedade, insegurança e incerteza. Por exemplo, colocar o X no nome da empresa pode trazer tranqüilidade, mesmo diante de tantas incertezas, pois Eike estaria fazendo “a sua parte”, dando “a sua contribuição para a sorte”. Tem aqueles que colocam sal grosso atrás da porta, que fazem figa, que comem romã e lentilha na virada do ano (e de preferência ainda pulam 7 ondas no mar...) para se sentirem mais confiantes.

Ainda que as conseqüências destes comportamentos supersticiosos não afetem a probabilidade de sucesso em empreendimentos, de uma planta perder sua vitalidade, de um time de futebol fazer gols ou de alguém encontrar o amor da sua vida, eles continuarão a existir por trazerem uma sensação de “missão cumprida” no lugar de sentimentos desconfortáveis. E principalmente por estarem sendo reforçados acidentalmente, na medida em que acompanham outros comportamentos que, efetivamente, produzem as necessárias modificações no mundo para que os objetivos sejam alcançados. Todo dia 29 pode-se colocar um dólar em baixo de um prato de gnocchi, mas ninguém fica os demais dias do mês sem trabalhar, esperando que a sorte apareça. Será que Eike se tornou o 8º bilionário do mundo por causa do X, ou por outras contingências de reforçamento? Provavelmente, dificilmente colocaremos em Xeque o X da questão, pois “em time que está ganhando não se meXe”, é isso mesmo?


"I'm a great believer in luck, and I find the harder I work, the more I have of it."
(“Acredito muito na sorte e percebo que quanto mais trabalho, mais sorte tenho.”)
Frase atribuída a Thomas Jefferson

Mariana Garcia

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